24 de nov. de 2011

Ir

Deixa eu te pedir uma coisa
Não vá embora assim, de qualquer jeito
Nem se esconda atrás dos seus preceitos todos
Se tudo o que nós dois precisamos
É de um teto e alguém pra amar
Comida na mesa e um beijo na testa
Que o resto a gente dá um jeito
Pra arranjar dinheiro, há trabalho
Pra se divertir, existem sorrisos
Pro frio, um abraço basta
Então esqueça esses sonhos tolos
Que à tardinha embaixo do sol
Eles se esmaecem lentamente
Enquanto tudo que podemos ver
São as sardas um do outro
Não vá embora

5 de nov. de 2011

Pra Sorrir

E todo dia ela escrevia
Um bilhetinho sobre a vida
Pra tentar alegrar um leitor distraído
Ou uma moça sonhadora

24 de out. de 2011

Reta

Até onde vai a vida? E as coisas que eu julguei eternas?
Pra onde vai o amor? E o tempo que eu gastei procurando por ele?
Pra onde vão as pessoas? E tudo que elas fizeram?
Pra onde vai a amizade? E os amigos que deixei levar?
Pra onde vou eu? E o que costumava ser?
Pra onde vai a vida? E pra onde vai a morte?
Até onde continua a vida
E começa a morte?

6 de jul. de 2011

Um Amigo

Meu amigo que faz doer o peito
Faz doer também a maçã do rosto
De tanto rir
Meu amigo que faz arder os olhos
Faz também arder o estômago
Ao o ver
Meu amigo que dá saudade
Dá mais saudade ainda
Ao sair
Meu amigo sabe ser
Na simplicidade de um gesto
Tudo o que eu preciso ter

12 de abr. de 2011

Amor

Então ela descobriu o que era a felicidade
Quando só de ouvir a respiração dele
Respirava ela aliviada
De poder se aconchegar naquele corpo quente
E guardar seu coração junto ao dele

6 de abr. de 2011

Mágica

Ninguém sabia quem morava na terceira casa da rua.
A vizinha da casa ao lado pensava que as flores sumiam sozinhas da roseira
O lixeiro às vezes esquecia o lixo da terceira casa
Nunca varriam a porta, nunca tocavam a campainha
A casa era tão apagada que nem parecia estar ali
E a dona, tão vívida, que não deveria morar ali
As crianças da rua nunca brincavam na calçada em frente
Nenhum vira-lata procurava abrigo no telhadinho da casa
Nem mesmo os gatos, sempre em todo canto, pisavam em cima do jardim
E a casa também parecia não se perceber
As flores floresciam na época errada
A grama tinha uma cor tão diferente que parecia pintada
E ali nem mesmo a chuva ousava cair
Mas nenhum vizinho notava
Quando todo dia de manhã chegavam biscoitos quentinhos e um arranjo de flores
Com as rosas da vizinha da casa ao lado
E estranhas flores fora de época
Que a senhorinha da terceira casa deixava todo dia
Enquanto esperava da janela do sótão
Os sorrisos de vizinhos que acordavam carrancudos
Olhavam para os lados
E voltavam para suas casas sem ver absolutamente nada

16 de mar. de 2011

Prazer, me chamo desprazer

Ela se engasgou. Ele a viu, acenou. Como se não doesse nada, como se não se lembrasse de nada! Ela estremeceu. Não sabia o que fazer. Sentia sua barriga apertar, suas mãos ficavam geladas e ela ficou tão fraca que cairia com um sopro. Apresentou-a e continuou andando. Como se ela pudesse se mover depois daquele aperto de mãos estranho! E se ela pudesse se mover, seria engatinhando devagarzinho pra baixo da mesa, pra se esconder de todo mundo. E ela se sentiu tão pequena que poderia cair dentro da fresta da cadeira e se esconder entre o rejunte do piso. Ao invés de qualquer coisa assim, pediu licença. E no banheiro deixou cair toda a etiqueta por terra.

23 de fev. de 2011

Dois

Todo dia ela o observava e imaginava uma vida inteira ao seu lado. Mas tudo que conseguia viver eram uns segundos de sonho.
Todo dia ele a olhava de longe e se perguntava o porquê daqueles olhos sempre baixos. Mas só pensava nisso nos instantes em que a via.
Um dia se viram por mais tempo. E ele enfim reparou que os olhos dela procuravam os dele. Mas só durou o suficiente para que ela sentisse medo e fugisse.
Todos os dias ele se perguntava por que ela desaparecera.
Todos os dias ela o bisbilhotava de longe e imaginava se seus medos tinham fundamento.
Um dia ele se virou e a viu. E pela primeira vez, não se perguntava nada. Só imaginava uma vida inteira ao lado dela. E tudo que ela conseguia fazer era aceitar o medo.
Todo dia eles se redescobriam. E tudo que podiam fazer era procurar, dia após dia, um pedaço da pessoa que um dia conheceram.
Um dia mudaram tanto que não se reconheciam.
Ela só conseguia imaginar o tempo que ficou. E ele só se perguntava o que mudou entre eles.
E seus caminhos se separaram...
Ainda que ela só imaginasse uma vida com ele. E ele só tivesse uma com ela.

15 de fev. de 2011

Cor

Não sei do seu rosto
Todo
Não sei do seu cabelo
Solto
Não sei do seu futuro
Nosso
Quando tudo que consigo ver
É a cor que seus olhos vão ser
Ao se abrirem devagar pra mim
Não sei quando isso vai acontecer
Se vai
Não sei como vou reagir
Mas vou
Quando tudo que consigo pensar
É a cor do teu olho esquerdo
Um pouco mais azulado
A me olhar de esguelha
Querendo brincar

2 de fev. de 2011

Outono

E quando a filha lhe perguntou por que algumas mudanças doíam tanto
Ela respondeu que eram como folhas caindo pra dar lugar a outras
Nuvens se dissipando pro sol aparecer
Amigo sumindo pra outro surgir
O outono que chega de mansinho
esperando que algum dia
ele seja mais importante que o verão
"Não deixe que a dor seja melhor que a felicidade" ela lhe disse.
"Porque o sol nunca brilha tão lindamente no outono. Mas só existem folhas verdes se as mais velhas caírem no outono."