10 de abr. de 2014

O moço

O moço andou ali por todos os dias
O moço viveu ali quase todos os dias
O moço não era visto nem pelo moço

A cidade era tão grande
Mas não cabia dele
Nem um colchão de espuma
No cantinho da marquise

6 de abr. de 2014

O Enxoval

Se significava um não, ela nem sabia com certeza. Mas o não fica tão longe do sim, que nem dá margem direito pro talvez. Que é um não, então.
É, ele tinha falado um não. Ele tinha descartado tudo aquilo que ela vinha recortando e costurando por dias e dias, fazendo ponta, escolhendo as cores... Ele tinha dito um não meio maquiado assim, meio covarde. Talvez ele fosse mesmo assim, ela pensou. Talvez fosse por isso que ele se assustasse tanto com os não e sim dela. Ela era definitiva demais, realista demais, ele dizia.
Ela só queria explicar que enquanto ele se enganava e demorava pra decidir, ela tinha tecido todas aquelas colchas lindas, uma por uma, à mão. Que  ela podia não esperar grandes coisas dele, mas ela confiava em si mesma e fez tudo sozinha, olha só, uma por uma.
Ele nem reconheceu. Disse um elogio meio rotulado pras colchas em geral. E elas eram tão individuais, veja só! Tão diferentes! Como ele podia não perceber isso?
Por isso ela percebeu que era definitivamente um não. Mas pelo menos agora ela podia se aconchegar nas colchas. Talvez tecer algumas mais, enquanto ele continuava fingindo que aquele não tinha sido um talvez.