17 de dez. de 2014

De ir

Ela falou assim que se ele não soubesse daquilo, ela voltava
Aí ia dizer o quanto que tinha feito falta
Aquele sorriso, o beijo
E os pés trançados

Pensando que da vida ela levava só mesmo aquilo
Com mais um ou dois abraços antes de partir

9 de dez. de 2014

Da saudade

Não era sobre as noites em claro nem sobre as viagens.
Era sobre os dedos entrelaçados, o riso fácil...
E aquela simplicidade em não ter que ser nada além de si

2 de dez. de 2014

Da procrastinação

Tinha que dar tempo pro tempo
Pra ver se dava pra fazer algo além
De ver a vida correr

20 de nov. de 2014

Impressão

Ela tinha lido um livro meio impressionante, daqueles que impregnam na cabeça por dias. Era sobre um homem que desenvolveu um traje em que se ocultava à visão humana. E observava as pessoas.
Ela pensava se alguém a observava agora. E o quão patético seria perceber o quanto todo mundo é mais ou menos igual.
Ela se achava especial, mas se todo mundo se acha especial, bem, já não faz sentido de qualquer forma.
Hoje ela tinha se deitado no chão. Sempre achava espetacular se deitar no chão, como uma criança que finalmente faz algo que os pais desaprovam sem eles verem. Ela se achou interessante, assim, olhando o teto, olhando as rachaduras e as falhas na pintura. Não era interessante. Começou a imaginar que alguém podia vê-la.Que alguém sempre a seguia, pra todo lado. Pensou que isso podia ser uma forma distorcida de deus, mas ela achava mais plausível não ser.
Justo naquela noite, ela queria que alguém pudesse vê-la, entende? E depositou toda sua loucura nessa ideia do livro que tinha lido há uns dias. Ela não percebia que era mais um amigo imaginário do que, de fato, uma impressão forte de uma história. Ela não percebia que não tinha ninguém pra falar. Que o mais próximo de contato humano, seria se alguém a estivesse observando ocultamente.
Ela fez chá. Não porque gostasse, mas porque achava que existia algo de acalentador em bebidas quentes como o chá. Isso e porque era barato, e ela gostava de barato.
Ela bebeu metade da xícara e jogou o resto na planta. Não que ela pensasse que aquilo poderia matar a planta, mas era automático, como quase tudo na vida.
Ela ficava mais imprudente nas sextas à noite. Ela gostava mais de sorvete nas segundas. E fazia isso tudo pensando que era espontânea. Não era.
A vida seguia um padrão. E se alguém a estivesse observando, seria possível traçar a vida inteira com apenas um dia de observação.
Só que ela queria ser especial. Então comprou outro livro. E ficou lá, pensando que o homem estava no quarto, aprovando sua escolha.

19 de nov. de 2014

A tortura

O problema não era o dia quente
O ônibus lotado
O senhor gritando
O menino correndo

O problema não estava
Nas coisas que ele disse
Nas coisas que ele fez
Nas coisas que ele deixou pra trás

O problema era ela
Pura e simplesmente ela

Que não podia desgrudar de si mesma
Nem naquele momento que a alma descolava
E ela se sentia a sumir

A não ser pelo problema.

Que ela aumentava e segurava

Só pra sentir algo

Além de nada

17 de nov. de 2014

Pras Meninas

Quê que tem de errado
Com o cabelo, com as roupas

Quê que há de mal
Em dançar, em dormir

Por que é que todo mundo
Liga pro que se vê

Mas não ouve nem lê...

8 de nov. de 2014

Pra dar conta

Que fazia raiva de dor
De olhar praquela foto
De ouvir aquela foz
De ficar só
Ecoando uma, duas, três vezes
Aquela cena
Que doía de raiva
De transformar tristeza em indiferença

5 de nov. de 2014

Cidadão do bem

Ele tinha aquela cara
De quem passa a vida inteira
Sem olhar pra cima
E ver aquele prédio vermelho, saindo do contexto

É, ele não saía do contexto nunca...

Ele não reconhecia faces fora do lugar de origem
A moça da padaria fora de lá era uma estranha
O porteiro que dava bom dia fora do prédio ele nem via

E se andasse pelo lado contrário da rua
Se perdia

Que a gente preste mais atenção na vida

E menos num monitor que cansa
Com resolução infinitamente pior
Do que aquela da janela do ônibus

29 de out. de 2014

Nos dias

Tinha tanto tempo que o coração batia rápido que ela se sentia morta quando descansava
E quando não descansava vivia fatigada
Correndo pra ter tempo pra correr mais
Olhando o mundo por uma tela
Vendo a vida num vídeo ruim
Como seria o céu ela nem lembra
Só que às vezes  dava vontade de subir pra lá
E respirar

28 de out. de 2014

Pra fazer feliz

É hoje
Que vai ter sorriso pra todo mundo
Assim de graça mesmo
Pra ver se a alma fica leve
E a pressão se dissipa

24 de out. de 2014

O que dói

Tem que
Tem que respirar
Tem que parar pra ver
Se tu não explode,
Se não enlouquece
Se não te dói ficar a sós consigo mesmo
Tem que ter fé
Tem que ter fé na fé
Tem que ter fé pra fazer passar
Pra fazer parar
De fazer doer
Aquilo que arde, que corta, que queima
Aquilo que se vê
Se não pára
Se não parar
Se não fizer por onde
Tem que deixar pra lá
Pra fazer passar
Pra fazer esquecer
Do que não se sabe
Do que não se vê

10 de out. de 2014

Sobre a vida

Ele tinha medo de morrer porque achava que ia passar a eternidade refazendo aquele caminho entre os prédios mal pintados e os garotos vendendo bala, correndo contra o tempo pra pegar a condução de novo de novo e de novo.

Ela tinha medo de morrer porque achava que ia viver nos olhos de alguém, sem se mexer nem falar, como num sonho consciente e aterrorizante.

Eles tinham medo de morrer porque achavam que era bom viver.

E nenhum deles viveu para sempre.
E ninguém nunca perguntou pra eles
Se já era hora de ir
Ou se era melhor ficar

29 de set. de 2014

Pena

Que pena que coração não se gasta
Não se acostuma
Não se afrouxa

Que pena que a saudade dói
Não passa
Não abandona
Não diminui

Que pena que a gente vive a vida com medo
Ao invés de fazer aquilo
Que relaxa o coração
Que acalma a mente

Que faz a gente dormir
Depois de noites sem jeito
E dias sem propósito

Que pena que na vida a gente se acostuma
Se afrouxa
Se esquece

De tomar alguns riscos a mais
Pra deixar a alma mais leve

30 de ago. de 2014

Da distração

O segredo pra se viver bem
Era viver sem perceber
E morrer sem nunca ter pensado na morte

Que vive bem quem vive sem instigar
Sem questionar
Sem matutar

Que a vida não é problema pra ser resolvido
Não tem resposta que caiba na mente

Só não pode começar a pensar
Que assim não para
E assim vive pra pensar
Em morrer
Em viver plenamente

E não consegue desapegar
Da pergunta
Dos porquês

26 de ago. de 2014

Dos dias

Tem dia que ela separa aquela roupa colorida
Pra alegrar o dia
Do moço bonito
Atrás da avenida

21 de jul. de 2014

Do namoro

Se te quero é que nem sei mais
Separar nós dois de um jeito
Que não falte em mim
Nem sobre em você

20 de jul. de 2014

Da morte

Saber por que tem gente que vai
E gente que fica

Pra acalmar o coração
Pra acalentar a alma

Saber por que a gente tem que ir
E por que não pode voltar

Pra explicar a dor
Pra sanar a loucura

De viver uma vida inteira

Sem saber quando vai
Pensando em quem se foi
Pra não voltar mais...

13 de jul. de 2014

Esses homens na rua

A minha cara lavada incomoda
Cada pêlo no meu corpo incomoda

Incomoda se sou velha a tentar rejuvenescer
Incomoda se sou velha e deixo as rugas na pele

As minhas roupas incomodam
O meu corpo incomoda

Incomoda se eu trabalho e não dependo de você
Incomoda se eu não trabalho e dependo de você

O meu salário te incomoda
Os meus cabelos te incomodam

Incomodam meus seios a amamentar
Incomoda se não quero ter filhos

A minha saia curta incomoda
A minha saia comprida incomoda também

Desculpa se te incomodo por ser mulher
Ou por ter virado mulher

Por querer um espaço meu
Nessa selva machista

Em que meu espaço é seu
Meu corpo é seu
Minha voz é sua
Sou sua ?

Incomoda quando eu vou no seu espaço
Incomoda quando digo não

Incomoda quando eu escolho outro
Incomoda quando eu escolho outra
Incomoda eu poder escolher

Incomoda quando me uno às minhas irmãs
Incomoda quando nós tomamos o que é nosso

Nossa amizade incomoda
Nossa luta também

Desculpa mas vamos parar de nos desculpar
Por tomar o que é nosso por direito

E o incômodo vai ser você

9 de jul. de 2014

As sardas

Ela tinha três sardas.
Três sardas dos dias que descuidou
Dos dias que esqueceu

Daquela viagem que não coube protetor na mala
Daquele dia na piscina que não saiu do sol pra nada
Daquele fim de tarde na represa bebendo com os amigos

Ela tinha três sardas pra lembrar
Que esses padrões de beleza não fazem ela feliz
Que essa loucura de mil cremes e mil precauções não fazem ela feliz
Que a mente dela era mil vezes mais leve
Pra cada sardinha que nascia
Quando num descuido ela esquecia

Que lhe chamavam feia.

Talvez ela devesse ter um rosto cheio de sardinhas

Pra ficar confiante pra sempre

Que a felicidade não depende de nada
Além da mente leve de quem não se polui
Pela indústria que só consume

4 de jul. de 2014

Daquela festa

Um dia se levanta depois de anos
Sem saber pra onde que foram
Aquelas imagens que iam durar pra sempre
Mas que viraram borrão
E só aparecem melhor quando aquela música toca
De quanto eu conheci você

19 de jun. de 2014

É

Tem um pedacinho de mim que fica em você
Pra'quelas noites difíceis que faz falta
Seu pé esquerdo no meu

14 de jun. de 2014

Tem que

 Tem que abrir o peito pro coração bater melhor
Pros olhos verem colorido
E morrer de amor

8 de jun. de 2014

Mil e nenhum

Ela sussurrou baixinho pedindo ajuda se tivesse alguém ouvindo.
Só que não tinha...

30 de mai. de 2014

Dos chocolates

Quisera ela inventar um código imediato
Que passasse por todos os oceanos e montanhas
Cada vez que ele lhe viesse à mente
Sussurrando pra ele não esquecer
Aquela noite depois do trem

1 de mai. de 2014

Tchau

Ela respirou fundo e engoliu o choro, como aprendera quando criança. Relaxou os lábios pra esconder a raiva, as sobrancelhas pra esconder a surpresa. Forçou um sorriso pra negar a tristeza.
"Sim, tá tudo bem", ela então falou.
E eles seguiram viagem. Depois da discussão, depois do grito, depois do tapa.
Pararam num restaurante.
"Vou ao banheiro", ela falou.
Pediu carona pruma família que voltava pra cidade. Nem avisou a ele.
Foi de queixo erguido da entrada da cidade até em casa. Não atendeu o telefone. Não retornou as ligações.
Ele apareceu na casa dela. Louco de raiva, de ciúme, de confusão.
Ela ficou feliz pela mãe ensinando a esconder o que ela sentia.
Ele gritava, perguntava, acenava, da porta da casa dela.
Ela saiu, lhe deu um tapa e fechou a porta.
"Nunca mais", ela falou.

10 de abr. de 2014

O moço

O moço andou ali por todos os dias
O moço viveu ali quase todos os dias
O moço não era visto nem pelo moço

A cidade era tão grande
Mas não cabia dele
Nem um colchão de espuma
No cantinho da marquise

6 de abr. de 2014

O Enxoval

Se significava um não, ela nem sabia com certeza. Mas o não fica tão longe do sim, que nem dá margem direito pro talvez. Que é um não, então.
É, ele tinha falado um não. Ele tinha descartado tudo aquilo que ela vinha recortando e costurando por dias e dias, fazendo ponta, escolhendo as cores... Ele tinha dito um não meio maquiado assim, meio covarde. Talvez ele fosse mesmo assim, ela pensou. Talvez fosse por isso que ele se assustasse tanto com os não e sim dela. Ela era definitiva demais, realista demais, ele dizia.
Ela só queria explicar que enquanto ele se enganava e demorava pra decidir, ela tinha tecido todas aquelas colchas lindas, uma por uma, à mão. Que  ela podia não esperar grandes coisas dele, mas ela confiava em si mesma e fez tudo sozinha, olha só, uma por uma.
Ele nem reconheceu. Disse um elogio meio rotulado pras colchas em geral. E elas eram tão individuais, veja só! Tão diferentes! Como ele podia não perceber isso?
Por isso ela percebeu que era definitivamente um não. Mas pelo menos agora ela podia se aconchegar nas colchas. Talvez tecer algumas mais, enquanto ele continuava fingindo que aquele não tinha sido um talvez.

25 de mar. de 2014

Pra ser

Acontece que ele cansou de ter que ser as coisas e decidiu ser ele. Aí tudo desmoronou, como assim alguém sendo ele mesmo? E isso lá existe? O que é ser você mesmo afinal? No final é tudo ter que ser alguma coisa. Ter que ser você mesmo também vira uma obrigação às vezes e isso cansa.
Então ele decidiu ser tudo. Porque ninguém consegue ser tudo, e ele pensou que ali no meio podia ter uma pontinha de verdade pra chamar de ser.

21 de mar. de 2014

Agradecer

Obrigada Brasil,
Pela música alegre
Pela comida cheirosa
Pela gente aberta

Por me fazer ver a vida do outro
Por me fazer nunca pensar ser o fundo do poço

Por ficar triste se eu partir

Por segurar em você um pedaço de mim
E em mim, um seu

19 de mar. de 2014

Conto

Eu conto as sardas. Uma, duas três.
E conto os anos. Um, dois.
Faço as contas de quantas sardas vão surgir
Nesse meio tempo sem você.
Eu conto pra ter paciência. Até uns 20.
E conto pra ter coragem. Até uns 10.
Faço as contas de como vou melhorar
Sozinha em ser eu mesma
Eu conto pra ninguém
E conto de trás pra frente
O tempo sem você
E de frente pra trás
O quanto que me faz falta
Você contando pra mim
Uma, duas, três histórias



5 de mar. de 2014

A Inimizade que a Amizade causa

-E nem por um segundo você pensou mal de mim?
-Nunca. Você sempre soube amar as pessoas e usar as coisas. Mesmo agora que umas pessoas de plástico ainda sejam pessoas enquanto outras sem plástico tenham virado coisas.
-Às vezes você fala tanto que me confunde.
-Pior é o seu silêncio que me confunde mais que mil palavras. Pra mil palavras, tenho mil interpretações. Mas quando você se cala, não tenho nenhuma.
-Por isso te perguntei: nunca pensou mal de mim?
-Não. Você fala pouco, mas quando fala, é verdadeiro.
-Agora você foi sucinta e me assustou um pouco.
-Mas você me assusta o tempo inteiro!
-Por que ainda somos amigos?
-Porque você ama as pessoas. E o amor nunca machuca, nunca é demais. O que machuca é a falsidade, o exagero, a futilidade.
-Não te entendi de novo.
-Acho que você nunca vai entender. Mas precisava dizer.
-Nós devíamos parar de nos falar.
-Agora penso mal de você.
-Porque não quero manter contato?
-Pelo contrário. Por não ter feito isso antes.

2 de mar. de 2014

Eu, você

O que é um carro pra quem não tem casa
O que é jantar pra quem não tem água
O que é amor quando não tem amizade
O que é perdição quando não quer ser encontrado

O que significa nos olhos do outro o nosso dia
Quando o olho que vê está viciado como uma câmera velha
Que mostra aquela mesma mancha em todas as fotos, de novo e de novo

Como repetimos nossos padrões
Como não entendemos
O que é uma vida pra quem só vê morte
O que é um olá pra quem só tem despedida
O que é chão pra quem prefere sonhar

Como o coração do outro bate
Com seu ritmo já acostumado
A o que não significa nada pra mim
Mas é tudo pra alguém


26 de fev. de 2014

A Clara

Clara era preta. Tão preta que quando o sol tocava a sua pele, ela brilhava num tom meio azulado meio castanho. Um dia ela perguntou aos pais por que se chamava clara, com uma pele tão escura. A mãe respondeu é porque a alma dela era clara. A Clara queria ter uma alma preta igual a ela e não entendia por que tudo bom era claro e tudo ruim era preto.
A irmã da Clara alisava o cabelo. Dizia que assim que ela tivesse idade, ia poder fazer o mesmo com aquele cabelo ruim. A Clara achava seu cabelo é muito bom, com suas tranças, pompons e fitinhas.
As bonecas da Clara eram claras. As professoras também. A Clara um dia pintou sua Barbie de caneta preta. A mãe passou dias tentando tirar a "sujeira". Ela não entendia por que a Barbie pretinha assim era suja.
A Clara cresceu e continuou ouvindo tantas coisas. Que seu nariz era grande demais, por exemplo. Veja só, um nariz que pra ela era perfeito, sempre aberto nas duas narinas, raramente gripado. Ela ouviu que seus lábios eram grossos demais. E ela que pensava que esses eram bons pra beijos! Um dia ouviu que seus quadris eram muito largos, que a sua bunda era muito grande. Que os seus dentes pareciam brancos demais com aquele tom de pele. E quando ela achava que já havia ouvido de tudo, ouviu que deveria encontrar um marido branquinho, pra clarear os filhos.
E um dia, logo a Clara, que era cheia de luz. A Clara com aquela pele chocolate, os dentes muito bem alinhados e os cabelos macios. Logo a Clara, que era assim tão linda nos seus olhos de menina, ficou insegura quando virou mulher.
Ela tentou alisar os cabelos, que queimaram. Tentou emagrecer os quadris, mas era uma questão de ossatura. Ela chegou a pensar em cirurgias pra "corrigir" o nariz.
Aí um dia ela viu uma menina correndo. Pretinha assim, que nem ela. A menina carregava uma boneca preta nos braços, as duas com os cabelos cheios de tranças e fitas. A Clara se viu nela. A Clara não se via mais nela mesma.
Então ela encarou o espelho, encarou a sociedade. A Clara permaneceu forte, entre altos e baixos. Deixou o cabelo crescer forte, pra todos os lados que quisesse. Deixou ela mesma crescer forte, mais orgulhosa.Ela esperava um dia não ser tratada como um objeto a ser analisado, consertado. Não havia nada a ser consertado.
Ela esperava um dia talvez ter uma filha e poder chamá-la sei lá, de Preta, só pra variar. Mas isso só no dia em que preto não for mais uma pessoa, mas uma cor. Assim como as Claras, Rosas e Violetas que existiam por aí.

24 de fev. de 2014

Pode, não

Pode ser que a vida seja feita de sonho e fé
E que esperar faça parte de ser feliz um dia

Pode ser também que nada seja coincidência
E que nossos nomes estejam em algum jornal do futuro assim, traçados juntos

Ah, pode ser que tudo seja apenas coincidência também
E que a gente se cruzou por um efeito intergalático, por acaso

Pode ser que a gente tenha esperanças demais
Pode ser que a gente sonhe demais

Só não pode parar de indagar, parar de imaginar
Só não pode o outro virar espelho, e a vida monótona
Num monólogo de duas pessoas dia após dia

Só não pode acabar o choro na despedida, a dor de estômago de ansiedade
Só não pode a gente ficar vazia, e a vida superficial
Num comercial de margarina mal feito

Pode ser que tudo mude
Pode ser que tudo mude da mesma forma
Só não pode mudar e não caber a gente
Escritos na mesma folha, lado a lado

20 de jan. de 2014

Pra perguntar

Ela descobriu que era amor
Quando não se perguntou nenhuma vez se era certo
Se ia dar certo
Se ela podia fazer algo pra dar certo

Quando não existia "e se"
E nem espaço pra pensar se ia durar
Se ia ser ele
Se ia ser pra sempre

Ela descobriu que era amor toda vez que acordava com ele
Que comia com ele
Que ria com ele
E tudo era tão fácil
Que só podia ser amor

1 de jan. de 2014

Armário nosso de cada dia

Quanto tempo que tinha demorado
Pra ele não ligar de não ligar de volta sem vontade
Pra ele não dar beijo sem amor
Pra ele ir embora sem dizer tchau
Pra ele se aceitar como era, cada vontade, cada pensamento

Ah, quantas vezes ele tinha ido sem querer
E rido sem achar graça
Quantas vezes ele tinha sorrido meio fingido
E chorado de madrugada

Quanto tempo ele tinha demorado
Pra dizer não quando o coração apertava
Pra voltar quando não queria ir
Pra dizer oi pra aquela moça bonita

Ah, quantas vezes ele fez sem perceber
Aquela dança mentirosa
Quantas vezes ele foi só porque tinha que ir
E ficou só porque tinha que ficar

Como foi libertador aquele dia
Que ele fez o que deu na telha
Chocou todo mundo
E nunca foi mais feliz na vida