31 de mai. de 2013

Vadiagem

Se menina não usa pó é desleixada. Se usa, é falsa. Menina de cara lavada é descuidada, menina de maquiagem é fácil. Eu que nasci assim e já aprendi que não tem jeito de mulher ser algo bom não... Eu uso pra me esconder um pouquinho, guardar meu rosto só pra mim. E aí de noite eu posso contar minhas marcas no espelho. Ah, pra mim cara lavada é tão pessoal! Imagina se alguém mais soubesse daquela pinta ao lado do olho ou daquele início de ruga na testa. Olha, ser mulher é ser julgada. E se é pra ser julgada, eu prefiro ser julgada pelo que eu não sou. Por um rosto que não é meu, por um corpo que não é meu, por um estilo que não é meu. Assim cada vez que ouço um desaforo na rua, continuo andando... Aquilo não foi pra mim.

29 de mai. de 2013

Pra nascer sabendo

Quanto tempo demora pra aprender
A diferença entre diferente e especial
Entre especial e indispensável
Entre indispensável e amado
Entre o amor e a curiosidade

Quantas vezes tem de se ver
A vida pelos olhos do outro
O calor pela pele do outro
Os fatos pela mente do outro

Quanto tempo tem uma história
O suficiente pra ser a única
O mínimo pra prender o leitor
Até o seu final e mais um pouco

Por quanto tempo é o amor
Uma história a ser vista
E como saber se o amor
Ainda é curioso pra manter
E lindo de se viver

12 de mai. de 2013

No medo

O coração batia apertado, enquanto ela se sentia tonta, trêmula. "Vou perder o controle", ela pensou. Pensou que estivesse louca, doente, morrendo. As lágrimas foram descendo pra tentar aliviar, mas era demais. Ela tentava controlar a respiração, esquentar as mãos geladas, voltar o sangue pra cabeça e agir racionalmente. Só que a mente dela a enganava, fazia ela se sentir pequena e deitar assim, apertadinha, no cantinho da cama segurando o edredom... Como se isso fosse proteger de algo externo, ou aliviar a pressão interna ela não sabia. Já não sabia como lidar e o ar ia faltando pra ela, a sufocando pouco a pouco. Ela sentia que ia entrar ali embaixo das cobertas e ia desaparecer assim, sair de fininho prum mundo em que ela não sentisse tanto, onde não se sentisse tão doente. Primeiro ela perde os movimentos, depois a visão e a audição. O que ficava mais tempo era o olfato, que a fez sentir primeiro o cheiro de casa, depois o cheiro de viagem e, então, o cheiro dele. Aquele cheiro a acordou devagar. Então ela ouviu a sua voz, falando baixinho com ela, tirando aos poucos a tontura, lenteando o coração. Então ela viu ele e foi se desencolhendo, confiando. Ele a segurou bem de perto e ela sentiu seu corpo esquentar... E ficou feliz de ter uma âncora de realidade, um abraço de sanidade. E ele continuou a falar, falar... Enquanto ela precisasse de ouvir a sua voz, até dormir tranquila, finalmente.