31 de ago. de 2013

Sobre a pequenez das coisas

Nada era o mesmo que ignorar a situação.
Nada era o que ele podia fazer...

Pequeno, encolhido num canto, ele juntava as expressões confusas que iam aparecendo na sua mente.
Devagar e eficientemente ele organizou uma lista, a lista de coisas que faziam ele se sentir pequeno:

*Quando ele pedia o lanche na faculdade e a moça da cantina não lhe ouvia
*Quando a namorada conversava com outros e o deixava de lado
*As vezes que fez sinal prum ônibus que passou direto
*As festas que não podia ir, mas ela ia

Logo ele, um cara fisicamente grande, bem apessoado, lhe diziam. Tinha medo de coisas tão insignificantes como formigas em seu copo d'água ou não ter o dinheiro vivo na carteira ao fazer supermercado.
Ele, que era ali a figura do homem másculo, forte, se amedrontava toda vez que a namorada desaparecia do icq à noite.

Ele queria gritar pro mundo que não estava bem. Não estava bem ignorarem a sua voz, não estava bem ficar isolado na festa. Definitivamente não estava bem se sentir tão impotente.

Só que a vida não parava de acontecer, mesmo quando ele quase se fundia com o solo, numa mistura de vergonha e tristeza. Das coisas simples, sabe? Das coisas que acontecem todo dia e diminuem a gente ainda mais.

Ele tomou mais uns goles de cerveja e saiu do bar, saiu da cidade, saiu do estado. Olha, ele andou e andou, até achar uma casinha no mato e perguntar: "tá pra vender?"

E foi assim que acharam ele, uns 20 anos depois, tranquilo no quintal, colhendo umas bananas que tinham dado.

Ele ainda se sentia pequeno. Mas cuidava de coisas tão menores que se sentia, enfim, importante pra alguém, principalmente pro vira-lata zé e pra hortinha que ele regava todo dia.

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