20 de nov. de 2014

Impressão

Ela tinha lido um livro meio impressionante, daqueles que impregnam na cabeça por dias. Era sobre um homem que desenvolveu um traje em que se ocultava à visão humana. E observava as pessoas.
Ela pensava se alguém a observava agora. E o quão patético seria perceber o quanto todo mundo é mais ou menos igual.
Ela se achava especial, mas se todo mundo se acha especial, bem, já não faz sentido de qualquer forma.
Hoje ela tinha se deitado no chão. Sempre achava espetacular se deitar no chão, como uma criança que finalmente faz algo que os pais desaprovam sem eles verem. Ela se achou interessante, assim, olhando o teto, olhando as rachaduras e as falhas na pintura. Não era interessante. Começou a imaginar que alguém podia vê-la.Que alguém sempre a seguia, pra todo lado. Pensou que isso podia ser uma forma distorcida de deus, mas ela achava mais plausível não ser.
Justo naquela noite, ela queria que alguém pudesse vê-la, entende? E depositou toda sua loucura nessa ideia do livro que tinha lido há uns dias. Ela não percebia que era mais um amigo imaginário do que, de fato, uma impressão forte de uma história. Ela não percebia que não tinha ninguém pra falar. Que o mais próximo de contato humano, seria se alguém a estivesse observando ocultamente.
Ela fez chá. Não porque gostasse, mas porque achava que existia algo de acalentador em bebidas quentes como o chá. Isso e porque era barato, e ela gostava de barato.
Ela bebeu metade da xícara e jogou o resto na planta. Não que ela pensasse que aquilo poderia matar a planta, mas era automático, como quase tudo na vida.
Ela ficava mais imprudente nas sextas à noite. Ela gostava mais de sorvete nas segundas. E fazia isso tudo pensando que era espontânea. Não era.
A vida seguia um padrão. E se alguém a estivesse observando, seria possível traçar a vida inteira com apenas um dia de observação.
Só que ela queria ser especial. Então comprou outro livro. E ficou lá, pensando que o homem estava no quarto, aprovando sua escolha.

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