6 de out. de 2013

Do estoque de sonhos

Eram tantas caixas que ela se perguntava se a vida dela era assim mesmo, toda empacotada, setorizada.
Ela adorava acumular. Mas se assustava com quão facilmente ela poderia se desfazer daquilo tudo.
Só faltava uma pergunta e uma afirmativa. Pra encaixotar uns livros, umas mudas de roupa, e partir.
Pra aquele lugar com as árvores de fruta, da parede azul cheia de fotos, dos móveis que ela ajudara a construir.
Aquele lugar em que a vida dela não é feita de caixas, de limpeza, de rotina.
Pra cozinhar por longas horas e demorar um dia pra lavar tudo. Pra descansar na rede, ler um livro, dar um beijo.
Pro paraíso que eles tinham criado paralelamente, que ela visitava todo dia ao dormir.E ela via o sol nascer da varanda, abraçada nele, tomando um café.
Onde a única coisa que se acumulava era amor.

Ela um dia foi. E eles nunca compraram nenhuma caixa.

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